PPA de Três Cachoeiras projeta R$ 303 milhões e acende alerta para manutenção de serviços e impactos da reforma tributária

Durante audiência pública nesta segunda (2), secretário da Fazenda Roberto Kolling apresentou projeções orçamentárias para os próximos quatro anos e alertou para aumento de despesas, dificuldades de manutenção e incertezas com a reforma tributária

PPA de Três Cachoeiras projeta R$ 303 milhões e acende alerta para manutenção de serviços e impactos da reforma tributária
PPA de Três Cachoeiras projeta R$ 303 milhões e acende alerta para manutenção de serviços e impactos da reforma tributária (Foto: Reprodução)

REPORTAGEM ESPECIAL


A Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras foi palco, na tarde desta segunda-feira, 2 de junho, da audiência pública que apresentou e discutiu o Projeto do Plano Plurianual (PPA) 2026–2029. Com uma projeção de arrecadação de R$ 303 milhões para o período, o encontro foi conduzido pelo secretário municipal da Fazenda, Roberto Kolling, que expôs não apenas os números, mas também os desafios crescentes que pressionam a máquina pública.


Kolling explicou que a projeção foi elaborada com “excesso de prudência”, prevendo arrecadações mínimas frente à instabilidade econômica e às novas exigências de serviços. “Se eu projetar uma receita maior e não conseguir, corro risco. Preferi fazer mais conservador. Se arrecadar mais, posso ampliar por excesso de arrecadação”, detalhou.


Aumento de demandas e despesa em foco

Um dos principais alertas do secretário foi em relação ao crescimento das demandas sociais — que chamou de “demandas extras” — como o atendimento à causa animal, o aumento de diagnósticos relacionados ao autismo, a pressão sobre as salas de aula e, principalmente, os custos crescentes na saúde.


Ele citou a ampliação do horário de atendimento das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que agora funcionam até as 20h. “Antes das 17h, o paciente que não era atendido ia pra casa. Agora ele entra na UBS e precisa de atendimento, medicação e insumos. O problema está na despesa”, frisou.


Kolling também destacou a rigidez da folha de pagamento e a ampliação dos serviços como os principais obstáculos à sustentabilidade do orçamento municipal. “Nossa maior dificuldade está na manutenção. A arrecadação cresce, mas a despesa cresce mais ainda”, alertou.


Reforma tributária e cenário político

O secretário também fez críticas à proposta de reforma tributária em curso, demonstrando ceticismo com seus efeitos nos municípios, especialmente os pequenos. “Nunca vi perder imposto”, comentou, em tom irônico, ao se referir à possibilidade de diminuição na arrecadação local.


Ele ainda acrescentou que as “guerras políticas” e as “brigas tarifárias” no cenário nacional acabam refletindo diretamente nas finanças municipais. “A instabilidade do país respinga aqui, e isso compromete o planejamento”, afirmou.


Mudanças administrativas no PPA

O PPA apresentado trouxe duas alterações de estrutura interna. A primeira é o avanço na descentralização em duas pastas, a separação definitiva entre as secretarias de Fazenda e Administração, que durante muito tempo funcionaram como uma só. “Agora, com dois secretários, surgem conflitos de atribuições orçamentárias, mas é um processo necessário”, afirmou.


A segunda mudança envolve a alocação orçamentária do Conselho Tutelar, que até então estava vinculado ao Fundo de Assistência Social. Com as novas exigências de gestão, o Conselho passou a ser vinculado diretamente ao Gabinete do Prefeito, apenas para efeito de empenho, embora continue sendo uma política da assistência social.


Tecnologia, software e limites da gestão

Outro ponto destacado foi o tratamento de dados com o novo sistema de informática adotado pela Prefeitura. Segundo Kolling, a antiga empresa incluia os elementos de despesa durante a elaboração do PPA. Já o novo software trabalha por programas, mas não detalha as despesas específicas — o que ficará para o orçamento anual, previsto para outubro. “O PPA virou uma referência, mas sem elementos de despesa discriminados”, lamentou.


Receitas incertas e futuro em risco

Kolling também apontou duas receitas incertas que preocupam: a arrecadação de ISS proveniente dos pedágios e a continuidade das emendas parlamentares para custeio. Ele foi enfático ao afirmar que, embora hoje o município esteja em equilíbrio financeiro, a sustentabilidade dessa condição é incerta. “Três Cachoeiras está dentro do equilíbrio financeiro. Mas por quanto tempo? Não sei.”


Conclusão:

A audiência evidenciou que, apesar da previsão orçamentária aparentemente robusta, Três Cachoeiras vive o desafio de manter a estrutura de serviços funcionando sob pressão crescente de despesas e incertezas externas. O Plano Plurianual, ainda em discussão, será o norte para os próximos quatro anos — mas já começa sob o peso da prudência e da cautela.

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