Caso Bolo: Tragédia, Veneno e uma Investigacão que Chocou o Litoral Norte
A Operação Acqua Tofana revelou um esquema mortal que resultou em quatro mortes e quatro tentativas de homicídio.

O INÍCIO DO MISTÉRIO
No dia 23 de dezembro de 2024, seis pessoas compartilharam um simples bolo. O que deveria ser um momento de confraternização se transformou em uma tragédia: no dia seguinte, três delas faleceram e outras três sobreviveram, mas passaram por um verdadeiro pesadelo de intoxicação.
O caso, batizado de "Caso Bolo", logo se tornou alvo de uma intensa investigação policial, desencadeando a Operação Acqua Tofana, conduzida pelo DP Torres e SIPAC DPRI Capão da Canoa. Com um minucioso trabalho pericial e testemunhal, a investigação revelou uma história de veneno, vingança e frieza.
A INVESTIGAÇÃO
Com a morte de três vítimas, a polícia passou a levantar hipóteses e buscar provas. No dia 25 de dezembro, uma testemunha crucial compareceu à DPPA Canoas e forneceu informações que aceleraram as investigações. No dia seguinte, a polícia representou pela condução coercitiva da principal suspeita, Deise Moura dos Anjos, e apreendeu seus dispositivos eletrônicos.
A análise dos celulares, computadores e documentos trouxe à tona uma série de evidências comprometedoras, incluindo notas fiscais de compras de substâncias tóxicas e mensagens comprometedoras trocadas com as vítimas. O histórico mostrou que a primeira compra de um produto potencialmente letal foi feita no dia 16 de agosto de 2024, sendo entregue cinco dias depois.
O ENVENENAMENTO E AS PROVAS
As perícias identificaram a presença de substâncias tóxicas nos alimentos consumidos pelas vítimas. A exumação do corpo de uma das vítimas, realizada no dia 8 de janeiro de 2025, confirmou a presença da mesma substância letal, reforçando a hipótese de envenenamento premeditado.
Depoimentos foram cruciais para a ligação dos fatos. Uma testemunha relatou que, após a morte de Paulo, outra vítima, Maida, comentou que, caso algo acontecesse com Zeli após ela ingerir algum alimento, deveria ser investigado. Outra testemunha revelou que a suspeita costumava se referir à sogra como "naja" e demonstrava comportamento dissimulado e desequilibrado.
Além disso, uma carta manuscrita foi encontrada entre os pertences da suspeita, na qual ela faz confissões indiretas. Em um dos trechos, ela diz: "Muito obrigada por esses 20 anos que fez da minha vida de casada um inferno. Mais uma vez, eu sou a vilã e você a mocinha (...) Conseguiu ficar com tudo o que é meu: minha família, minha casa (...)". Em outro momento, menciona a compra de veneno, supostamente para si mesma, mas que acabou sendo usado contra terceiros.
A PRISÃO E O ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO
Diante das provas irrefutáveis, no dia 5 de janeiro de 2025, Deise Moura dos Anjos teve sua prisão temporária decretada e cumprida. Com a investigação concluída, os inquéritos foram remetidos em 20 de fevereiro de 2025, totalizando mais de 1.400 páginas e um volume robusto de evidências periciais, depoimentos e análises técnicas.
Ambos os inquéritos apontaram Deise como a autora de quatro homicídios triplamente qualificados (motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação) e quatro tentativas de homicídio com as mesmas qualificadoras. No entanto, não houve indiciamento devido à extinção da punibilidade conforme o artigo 107, inciso I do Código Penal.
UM CASO QUE MARCOU A REGIÃO
O Caso Bolo choca não apenas pelo modus operandi cruel, mas pela frieza e premeditação dos atos. A Operação Acqua Tofana recebeu esse nome em referência a um famoso veneno utilizado no século XVII por mulheres italianas para eliminar desafetos.
A investigação minuciosa, conduzida pela Polícia Civil, resultou na elucidação do crime e na entrega da verdade às famílias das vítimas. O caso permanece como um dos mais impactantes do Litoral Norte, servindo de alerta para crimes de envenenamento e os sinais que podem ser observados antes que tragédias como essa aconteçam novamente.
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